quarta-feira, 25 de agosto de 2010

RETORNO



"Somente depois de ter andado por terras estranhas
É que pude reconhecer a beleza da minha morada.
A ausência mensura o tamanho do local perdido,
Evidencia o que antes estava oculto, por força de costume.
Olhei minha mãe como se fosse a primeira vez.
Olhei como se eu voltasse a ser criança pequena
A descobrir-lhe as feições tão maternas.
Abri o portão principal como quem abria um cofre
Que resguardava valores iincomensuráveis.
As vozes de todos os dias estavas reinauguradas
Deitei-me no colo de minha mãe como se quisesse
Realizar a proeza de ser gerado de novo.
Suas mãos sobre os meus cabelos pareciam devolver-me a mim mesmo.
Mãos com poder de sutura existencial....
Era como se o gesto possuísse voz, capaz de me dizer:
Dorme meu filho, porque enquanto você domir
Eu lhe farei de novo.
Dorme meu filho dorme."

Texto extraído do livro "QUEM ME ROUBOU DE MIM?" Pe Fábio de Melo.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

encontos anônimos I

a moça e o mendigo

no dia em que fui pega espancando um mendigo só gritavam absurdo! que absurdo! como é capaz de fazer isso uma garota tão bonita? não entendi a reação das pessoas...

o mindingo-digo-mendigo vale quanto? 75 centavos a menos depois das compras, ouvi a mulher do terceiro absurdo pensar. para o homem do primeiro valia menos.

eu só queria que ele sentisse (mais) dor pois o odor é forte na calmaria.
mas ela veio e, quando o cheiro de merda e suor se fez presente mais uma vez no ar narinas boca etc. o homem, com os buracos da estrada no rosto e a gasolina do senhor a escorrer pelo nariz, me disse obrigado, moça. por nada.

o banho – ou como J. K. e R. enxergam os próprios corpos


a água escorre indiferente assim como pele músculo ossos e veias. J. sente na vagina e (resto de) pregas uma vida que não serviu para nada. não olhava para o corpo, que, afinal, não pertencia a ela.

nota-se que há espelhos por todo o banheiro. o corpo é belo. o corpo é belo. o corpo é belo. o corpo é belo. o corpo é belo. isso é tudo que precisam saber sobre R

encontos anônimos II

a outra personagem

voltava da rua ainda com aquele andar infantil e os olhos de carrasco. o vestido branco estava um pouco sujo.

sempre pensava no banheiro. sempre pensava. pensava no mendigo que acabara de espancar na rua. o sangue de sua menstruação descia do nariz enfiado em sua boceta. usava os dedos enquanto olhava pro corpo. K. lembrou-se então do cheiro e líquido que descia da face de seu pai estirado na rua. gozou.


chá de bebê

o pai de K. estava prestes a nascer. roupas para bebês, sim. obrigada! o homem que a acompanhava - um conhecido, talvez - mostrava-lhe camisetas como as de qualquer rescém-nascido.

não há identidade!
ANTIDADE
IDADE
DE
E a moça do caixa , que era três ou quatro reais menos práti-que-k demorou para acertar o cartão na máquina. K. pensava duas máquinas por quê?

por que esses dois corpos que são só pés ossos e ás me incomodam?

K. saiu da loja com o homem cuja face ignorava e microuniformes do botafogo, time pelo qual seu pai sempre torceu.

Virando a página

Leitores inveterados