Mnemosyne
Contar, recontar, rememorar
quinta-feira, 2 de junho de 2011
Zabé
quarta-feira, 25 de agosto de 2010
RETORNO
"Somente depois de ter andado por terras estranhas
É que pude reconhecer a beleza da minha morada.
A ausência mensura o tamanho do local perdido,
Evidencia o que antes estava oculto, por força de costume.
Olhei minha mãe como se fosse a primeira vez.
Olhei como se eu voltasse a ser criança pequena
A descobrir-lhe as feições tão maternas.
Abri o portão principal como quem abria um cofre
Que resguardava valores iincomensuráveis.
As vozes de todos os dias estavas reinauguradas
Deitei-me no colo de minha mãe como se quisesse
Realizar a proeza de ser gerado de novo.
Suas mãos sobre os meus cabelos pareciam devolver-me a mim mesmo.
Mãos com poder de sutura existencial....
Era como se o gesto possuísse voz, capaz de me dizer:
Dorme meu filho, porque enquanto você domir
Eu lhe farei de novo.
Dorme meu filho dorme."
Texto extraído do livro "QUEM ME ROUBOU DE MIM?" Pe Fábio de Melo.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
encontos anônimos I
a moça e o mendigo
o mindingo-digo-mendigo vale quanto? 75 centavos a menos depois das compras, ouvi a mulher do terceiro absurdo pensar. para o homem do primeiro valia menos.
eu só queria que ele sentisse (mais) dor pois o odor é forte na calmaria.
mas ela veio e, quando o cheiro de merda e suor se fez presente mais uma vez no ar narinas boca etc. o homem, com os buracos da estrada no rosto e a gasolina do senhor a escorrer pelo nariz, me disse obrigado, moça. por nada.
o banho – ou como J. K. e R. enxergam os próprios corpos
a água escorre indiferente assim como pele músculo ossos e veias. J. sente na vagina e (resto de) pregas uma vida que não serviu para nada. não olhava para o corpo, que, afinal, não pertencia a ela.
encontos anônimos II
a outra personagem
sempre pensava no banheiro. sempre pensava. pensava no mendigo que acabara de espancar na rua. o sangue de sua menstruação descia do nariz enfiado em sua boceta. usava os dedos enquanto olhava pro corpo. K. lembrou-se então do cheiro e líquido que descia da face de seu pai estirado na rua. gozou.
chá de bebê
não há identidade!
ANTIDADE
IDADE
DE
E a moça do caixa , que era três ou quatro reais menos práti-que-k demorou para acertar o cartão na máquina. K. pensava duas máquinas por quê?
por que esses dois corpos que são só pés ossos e ás me incomodam?
K. saiu da loja com o homem cuja face ignorava e microuniformes do botafogo, time pelo qual seu pai sempre torceu.
quarta-feira, 14 de julho de 2010
Eu sempre estive lá
segunda-feira, 28 de junho de 2010
sem ti, tu ou lo.
nem voo de amanhã que se
partiu
no meio
da minha sala de assustar.
o avião de gelo derreteu
e a mão daquele moço
congelou
tão certo e perto do meu coração.
não vi a sua voz a me acenar
meus olhos?
o mesmo moço arrancou
cantando que os dois queriam ver demais.
os olhos até tentaram
despedir
perdão
até que a mão do homem
os congelasse
e o cu com classe dissesse não.
quarta-feira, 23 de junho de 2010
Uma Maria
Um dia Maria cresceu. Sem fronteiras nem limites, Maria se apaixonou pelo bonito garçom que lhe servia vodcas num boteco de baixa procedência onde costumava passar as madrugadas. Depois de um tempo, Maria virou uma grande mulher: casada, bem amada, mãe e feliz. E nunca deixou de possuir aquele intenso desejo de matar, e é por isso que toda manhã depois da visita ao açougue, trata com frieza meticulosa e extremo vigor a carne que escolheu para o almoço, aquela que será a fonte de vida e de comunhão entre os seus.
terça-feira, 22 de junho de 2010
A história de J. ou uma mulher completa
A ideia de que toda mulher se torna completa somente após a maternidade atormentava J. Não gostava dos homens – mormente aqueles cuja aparência se encaixava nos padrões de beleza – mas queria algo que dependesse totalmente dela e de suas vontades. Já fazia isso com seu corpo quando, em ataques de fúria ou simples prazer sádico ou masoquista ou ambos esquentava agulhas em chamas de velas e as atravessava pelos mamilos enrijecidos.
Porém, como tudo na vida de J. – e, para ela, na vida de qualquer ser humano -, entediou-se ao longo dos anos com seu belo corpo (provavelmente pelo fato de ser belo) e decidiu que precisava de uma criatura para sua diversão.
Aos vinte anos precisaria de duas ou três doses de alguma bebida forte para criar coragem, mas aos trinta e quatro quantos homens você acha que teriam entrado em sua boceta? Foi ao bar, sim. Não para beber, mas encontrar um homem que estivesse bêbado o suficiente para pagar seu preço e sóbrio o suficiente para ter uma ereção.
Pulemos os detalhes do ato sexual. Não há romantismo nessa trepada.
Antes dos nove meses nascia L. Uma garota forte e feia como o pai. Escolhi bem, pensou J. Então, nos dois anos seguintes dedicou-se à saúde de sua filha, assim poderia prepará-la para a vida.
No quarto aniversário, o presente. Sim, velas e agulhas. Nos mamilos, púbis, axilas... a criança chorava e J. sentia em seu corpo cada dor infligida à sua criatura, o que fazia seu sexo umedecer cada vez mais num ritmo que obedecia àquele em que L. se contorcia.
Cresceu saudável, forte e feia como o pai. Mas sem J., que entediou-se mais uma vez e partiu à procura daquilo que – agora sabia – nunca haveria de completá-la.