terça-feira, 22 de junho de 2010

A história de J. ou uma mulher completa

A ideia de que toda mulher se torna completa somente após a maternidade atormentava J. Não gostava dos homens – mormente aqueles cuja aparência se encaixava nos padrões de beleza – mas queria algo que dependesse totalmente dela e de suas vontades. Já fazia isso com seu corpo quando, em ataques de fúria ou simples prazer sádico ou masoquista ou ambos esquentava agulhas em chamas de velas e as atravessava pelos mamilos enrijecidos.

Porém, como tudo na vida de J. – e, para ela, na vida de qualquer ser humano -, entediou-se ao longo dos anos com seu belo corpo (provavelmente pelo fato de ser belo) e decidiu que precisava de uma criatura para sua diversão.

Aos vinte anos precisaria de duas ou três doses de alguma bebida forte para criar coragem, mas aos trinta e quatro quantos homens você acha que teriam entrado em sua boceta? Foi ao bar, sim. Não para beber, mas encontrar um homem que estivesse bêbado o suficiente para pagar seu preço e sóbrio o suficiente para ter uma ereção.

Pulemos os detalhes do ato sexual. Não há romantismo nessa trepada.

Antes dos nove meses nascia L. Uma garota forte e feia como o pai. Escolhi bem, pensou J. Então, nos dois anos seguintes dedicou-se à saúde de sua filha, assim poderia prepará-la para a vida.

No quarto aniversário, o presente. Sim, velas e agulhas. Nos mamilos, púbis, axilas... a criança chorava e J. sentia em seu corpo cada dor infligida à sua criatura, o que fazia seu sexo umedecer cada vez mais num ritmo que obedecia àquele em que L. se contorcia.

Cresceu saudável, forte e feia como o pai. Mas sem J., que entediou-se mais uma vez e partiu à procura daquilo que – agora sabia – nunca haveria de completá-la.

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